Passeando pelo Bairro Ribeirinho em 1740

23 de setembro de 2022

Numa prosa corrente e sem mistificações, José António Pinheiro e Rosa no seu "Passeando por Faro em 1740", editado em 1984, partilha o conteúdo do "Rol dos Confessados", um documento achado nos arquivos da Igreja de S. Pedro e, pedindo para nos abstrair da grande porção de edifícios atuais, leva-nos a passear por esta parte da cidade, pelas mesmas ruas, antes chamadas por outros nomes.

Estamos em 1740 e saindo da Igreja Matriz de São Pedro, em volta da qual existe apenas um grande terreiro, encontramo-nos no Adro. À direita está a Rua dos Capuchos (atual Serpa Pinto), onde moram poucas pessoas, e, à esquerda, a Rua da Cadeia (hoje é a Filipe Alistão) com o edifício onde surgirá o Colégio Algarve, antes habitação do Capitão Mor, Mascarenhas Manoel e depois adquirido e melhorado pela família judaica Amram.

Subindo a Rua da Cadeia (Filipe Alistão), viramos na primeira à esquerda e eis-nos na Rua de São Pedro, que nos séculos conservará o nome: nela moram muitos eclesiásticos. A primeira abertura lateral à esquerda é a Rua do Zambujeiro (Rua do Compromisso) onde já se encontra naquela época a "Casa dos Marítimos". Nesta rua mora Miguel Nobre, entalhador de algumas das capelas da Igreja do Carmo, depois do terramoto de 1755. Ainda não existe a Travessa de São Pedro.

O seguimento da Rua do Compromisso chamava-se então Rua Diogo Gago, atingindo o limite da freguesia na Rua do Peixe Frito (atual 1º de Maio). Entramos pela Rua do Monte Arroio que se chama assim até ao cruzamento com a então Rua da Cavaca (hoje, Rua do Prior), a mesma que no troço até à Rua de S. Pedro fora Rua de Jacome de Faria e Rua do Chibé. Passamos pela Rua do Arco (mais tarde, devido à construção de mais um arco, ficará Travessa dos Arcos) até à Rua Direita (atual Rua do Conselheiro Bivar), onde se erguerá o Palácio Bivar e que "agora", em 1740, é ladeada por armazéns de um lado e casinhas térreas do outro.

Viramos à direita e chegamos ao Terreiro da Madalena (hoje é o Largo homónimo). Aqui convergem várias ruas: à direita, a Rua do Forno Filipe Álvares, depois Papa-Lebres e finalmente Rua da Madalena, paralela à Rua do Cordeiro (atual Baptista Pinto) e à Rua Teófilo Braga (que não existia), e que cruza com a Rua da Viola, conhecida sempre por este nome; em frente, a Rua da Carreira que dois séculos mais tarde se chamará Rua do Infante D. Henrique e a Rua do Forno Alexandre Mendonça (hoje Rua do Forno) e, à esquerda, duas ruas com o nome inalterado: a Rua da Cruz e, paralela a esta, a Rua da Barqueta, povoada inteiramente por marítimos.

Em frente vemos a "Ribeira", com os estaleiros, o Poço da Ribeira, onde surgirá mais tarde o edifício da Alfândega, as muralhas, que cairão no terramoto de 1755 e a água a chegar até à Rua da Parreira, atual Gil Eanes.

Do lado direito desta, perdemos a vista na Horta da Carreira e, entre os salgados e os baldios, "em frente, ladeando a estrada que vai para Loulé e para o Algarve de Barlavento, é o campo...".

E foi assim que José António Pinheiro e Rosa nos deu a conhecer a antiga toponímia do Bairro Ribeirinho, despertando no leitor uma curiosidade agridoce: vistos os problemas que todos conhecemos, como seria hoje a descrição de um passeio por este bocadinho da União de Freguesias de Faro pela sua ilustre caneta?

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