Vozes do Bairro : Sr. Reis

17 de outubro de 2022

O Sapateiro Reis e o Pato Batata

No âmbito da secção "Vozes do Bairro", fomos visitar um artesão do Bairro Ribeirinho e o seu fiel companheiro: o senhor Reis e o pato Batata.

Encontramo-los na Rua da Madalena nº. 26, local da oficina onde o senhor Reis conserta os sapatos e onde nos recebeu com muita cordialidade.

De origens setubalenses, bem visíveis nos adereços presentes à porta, o sapateiro da Rua da Madalena contou-nos da sua atividade de três décadas no Bairro Ribeirinho e partilhou connosco um pouco da sua história.

Depois da guerra no Ultramar, trabalhou na construção civil como estucador e finalmente como sapateiro: as mãos e a mente do senhor Reis estão habituadas a manusear os detalhes. Embora o gesso e o couro sejam materiais diferentes, ambos requerem muita observação e perícia. 

A pequena oficina da Rua da Madalena é um observatório do mundo com todos os mundos do senhor Reis lá dentro. Além da presença do simpático pato Batata e das ferramentas do ofício, as paredes estão repletas de fotos e reflexões, as prateleiras são para as miniaturas das amadas personagens do Asterix e Obelix, na cadeira está um livro de História da Arte, no banco uma estátua, de sua autoria, do pato Mosca e, à esquerda, um desenho do Pavarotti, também realizado pelo sapateiro, que, emocionado, cita a famosa aria "Nessun Dorma" da Turandot. 

O senhor Reis fala-nos de arte, de fósseis e de Luís Pasteur, reflete e leva-nos a refletir sobre a evolução e involução das espécies. A sua experiência de saber olhar ao pormenor, torna-o um excelente observador do mundo que o rodeia: fala-nos da falta de valores que gera maus cidadãos, os quais alimentam o descuido, vivem na apatia e nutrem o desleixo e o desrespeito pelas pessoas e pelos espaços comuns. 

Conta-nos do gosto que sente ao observar o asseio das ruas embelezadas dos centros históricos da Andaluzia e da preservação do património, ou das associações como a nossa, nos bairros franceses, que elaboram listas de coisas para consertar e as enviam às autoridades competentes que, depois de as analisar... agem.

O nosso interlocutor aponta o dedo para a insustentabilidade da lógica do "usar e deitar fora" que se aplica, e não só, aos sapatos que já não se consertam: compram-se(independentemente dos materiais e da mão de obra empregue) e, quando se estragam, vão para o lixo. Gostaria que as pessoas ganhassem mais consciência do impacto nefasto sobre o ambiente que a "cultura" consumista implica.

O senhor Reis, através do seu ofício, é o exemplo de quem sabiamente doseia o conhecimento entre o que tem de ser adaptado e o que necessita de conserto: fá-lo com paciência, respeito e minúcia.

O seu mote é revitalizar para reutilizar e é válido para muitos âmbitos: no fundo, trata-se de conservar a matéria por ser a sedimentação física da memória.

Convidamos todos a visitar este artesão icónico do Bairro Ribeirinho: sai-se com os sapatos bem consertados e ganha-se conhecimento.

A portinha nº. 26 da Rua da Madalena encontra-se aberta todas as manhãs de segunda a sexta-feira.

Aos sábados, o senhor Reis leva o seu fiel amigo Batata a dar uns bons mergulhos na Doca, fazendo a alegria de todos os que por ali passam.

Bem hajam, senhor Reis e pato Batata, e obrigado por nos terem recebido!

© 2022 ASSOCIAÇÃO BAIRRO RIBEIRINHO. Rua do Capitão Mor, n.º 12, 8000 240 Faro
Desenvolvido por Webnode Cookies
Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora